quinta-feira, 8 de agosto de 2013

De volta.

        Há tempos as canetas e os papéis vinham suplicando por vida. De certa forma, as palavras permaneceram desconfiadas, desfilando numa nostalgia que outrora se expressava absorta da timidez de então. Ali - na penumbra - sentiu na pele o que a torturava por dentro. Algo semelhante ao que os dicionários indicam como coragem a percorreu como um ácido. Corroendo as cenas internalizadas de tempos não tão distantes, destruiu o que sua fantasia teimava em dizer que pertencia ao presente. O passado, embora relutasse em se responsabilizar por mais esse fardo, teve de aceitar. Então, por alguns segundos, acreditara que o vazio resultante fosse lhe consumir. Pouco a pouco, entretanto, o que a compôs foi uma leveza intensa. Foi capaz de abrir os olhos e depositar sobre o olhar o mistério inerente ao futuro. Desejou-o. Sentiu-se livre. Colocou – com o devido cuidado - suas escolhas uma a uma sobre os braços. E o que a manteve feliz, a partir de então, foi a constante oportunidade de abraçar o mundo todo!  

criandocondicoesaliberdade.blogspot.com


“Liberdade é o espaço que a felicidade precisa”. (Fernando Sabino)

Escrito por Beatriz C. Zanatel, 8 de agosto de 2013.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Vontade: aprisionamento da individualidade.

          E o ser humano assim permanece: condenado a desejar. Como um servo da Vontade, afunda-se no território pantanoso do poder. Trata-se da inepta sensação de conquistar, que enche os pulmões de um orgulho sinestésico que a cada expiração é substituído pelo ócio. E, então, o sorriso de outrora agora se faz oriundo da impassibilidade, não da satisfação pessoal. Desse modo, sua presença apenas metaforiza o disfarce da angústia. Instala-se sobre o ser o paradoxo. A exigência da felicidade - dentro de uma atmosfera social em que são oferecidas soluções materialistas e imediatas - em contradição à eterna efemeridade do desejar. Individualismo e vulnerabilidade: produtos do processo.




Escrito por Beatriz C. Zanatel, 21 de janeiro de 2013.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Erro

           A subjetividade dos infortúnios criados pelo destino, pelo acaso, ou por qualquer outro nome que se dê às circunstâncias que cercam o ser humano faz com que se mergulhe no próprio ser. O amontoado que se aglutina - corpo, mente, espírito - constrói-se diante de escolhas. A "pseudo-liberdade" destinada a abraçar a ideia de escolha encontra-se reprimida diante da possibilidade de erro. Erro. A palavra de cunho melancólico, ao inserir-se na ditadura da sociedade instantânea, metaforizou-se em fracasso. Ora, não há mais tempo para errar. A cobrança é unidirecional: do indivíduo ao próprio indivíduo. A necessidade instintiva de poder, aliada ao hedonismo e as mazelas da pós-modernidade, fez do ser um amontoado de normas a serem preenchidas para uma suposta realização pessoal. Mas como realizar um indivíduo se o próprio indivíduo permanece tão distante de si? É preciso aceitar a condição humana. É preciso aceitar que a imperfeição pode ter suas vantagens, e que os erros são pretextos valiosos para que mudanças aconteçam. 

(Página Templo Cultural Delfos)

Escrito por Beatriz C. Zanatel, 26 de outubro de 2012.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Quando esse presente era apenas o futuro.


   Anestesiava-se com a dor que fluía no peito alvo, coberto pela seda ocre que deslizava intrínseca às mãos. Mãos vazias, frias, esquálidas. A angústia que se materializava no timbre do silêncio rancoroso, guardava uma tristeza vaga. Uma tristeza sem propósito, que nem mesmo a metafísica fundamentava. O “eu” distanciou-se do corpo empírico. Como uma criança assustada, olhava para o cenário em que a multidão, paradoxalmente, construía uma solidão fúnebre. A necessidade do “escolher” perdurava, devorando expectativas, servindo-se da doçura da alma indefesa que, por desventura, fugia, machucava-se. Cresceria um dia a pobre criança?  Ela sabia que o tempo estava disposto a esperar, a acolhê-la num abraço quente e reconfortante. Todavia, a morada das circunstâncias era o presente. Um presente tão desejável quando as circunstâncias estavam guardadas no pretérito... Quando esse presente era apenas o futuro. Como qualquer criança, necessitava de colo. Entregou-se ao afago da melancolia, enquanto a confiança em si não era plena. 

Escrito por Beatriz C. Zanatel, 3 de junho de 2012.

sábado, 31 de março de 2012

Complementação.

          O amanhecer sinestésico, ao qual se mantinha voluntariamente refém, parecia ser rasgado por minutos desleais que traduziam a angústia de então. Se os ponteiros já se mostravam exaustos, o medo ainda permanecia resistente. O cenário inóspito e empoeirado por sentimentos que se perderam com o tempo materializava, paradoxalmente, o que não se queria perceber. Dera-se complemento ao que se fazia, há pouco, intransitivo. Fez-se a dúvida. Fez-se a necessidade do “justificar”. O natural fez-se perturbador. E, de repente, o peito que fagocitara o dogmatismo acolhedor agora suplicava por aquilo que o fizesse pulsar. Um aquilo capaz de penhorar a brandura em nome do instável. Em nome de algo ainda não descrito, mas que fosse capaz de o tirar da esqualidez e da inércia concomitante. Por entre as nuances da serena aurora, estagnara-se anestesiado. A fragilidade do existir dubitável fez, então, com que delineasse novas cores.

Escrito por Beatriz C. Zanatel, 1 de abril de 2012.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Metamorfose

         Preparava-se para sua epopeia. Por entre os dedos magros, sonhos esguios. Planejamentos metaforizados sob a cintilante estrada que parecia amedrontar e, concomitantemente, reforçar o sorriso espirituoso que nutria aqueles olhos pálidos. Os livros ainda se espalhavam sobre a mesa. Gratos e dedicados, mostravam-se satisfeitos diante daquela alma cuja razão demorara a se tornar equânime à emoção. Teria se tornado? Se a meia-luz oriunda da janela entreaberta encarregava-se de fazer do cenário cênico e sinestésico, as letras irregulares da escrita suave davam seu toque de verdade ao momento. As pernas cruzadas já não eram de alguém que fora, até então, o produto sincrético de uma socialização involuntária. Via-se sem medo. Riscava. O medo permanecia ali. Arriscava. No entanto, a necessidade de mudar – camuflando-se – designava, aos poucos, uma metamorfose física, psicológica e espiritual. Como numa fotografia, olhava para si: palavras, ideais, comportamentos. Por certo, expectativas apareceriam, driblando a racionalidade estóica e retirando o preto – e – branco da foto.

Escrito por Beatriz C. Zanatel, 31 de janeiro de 2012.

OBS.: Agradecimento especial à Manu Altieri por ter me presenteado com uma imagem capaz de dar um significado ainda maior a cada palavra! (http://www.flickr.com/photos/manualtieri/5808646915/in/photostream)

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Cubismo.

            Talvez a chuva, que insistia em molhar as roupas esquecidas no varal, já não fosse mais a mesma. Caía lenta agora. Compreensiva. Como se cada gota fosse um pedacinho valioso de uma fragmentação intensa, duradoura. De certa forma, não eram mais os mesmos os olhos que examinavam as gotículas que se aglutinavam sobre o vidro. O coração acompanhava o ritmo da música sinestésica que alimentava a alma pálida, suave. Nutria aquela pluralidade viva, de perspectivas excêntricas e sincréticas. As mudanças mais uma vez aconteceram. Materializavam sobre o corpo uma vontade ainda obscura. Sobre a mente, a certeza de origem estóica: a impossibilidade de controle sobre a vida lhe encolerizava e, simultaneamente, secava-lhe as lágrimas quentes. Agia por amor. Agia para se fazer plena. Desistir da perfeição não a fez deixar de lado a busca por ser cada dia melhor. A humildade resolveu cobri-la de dignidade: fez-se humana. Atitudes que não criam expectativas em relação à reciprocidade são fundamentais. E aceitar, às vezes, é substancial.

           (Fonte: meunovobebe.blogspot.com)


Escrito por Beatriz C. Zanatel, 15 de dezembro de 2011.